VII Congresso Brasileiro de Hispanistas – 2012
Anais
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Daniel Mazzaro, segundo-tesoureiro da Diretoria Hispanismos y reencuentros (2022 - 2024), é licenciado em Letras Espanhol e Português e bacharel em Letras Português pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre e doutor em Linguística do Texto e do Discurso pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos (PosLin) da UFMG. Tem um pós-doutorado na área de Linguística Aplicada (PosLin-UFMG), um na linha de Literatura, Representação e Cultura (PPGELIT-UFU) e outro na linha de Teorias do Texto, do Discurso e da Tradução (PosLing-UFF). Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), atuando na área de Ensino e Aprendizagem de Língua Espanhola e está credenciado ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos (PPGEL) da UFU, no qual orienta pesquisas na linha “Linguagem, sujeito e discurso” e realiza a pesquisa intitulada “Bases de um Estudo Discursivo na perspectiva Queer”, cuja origem é o grupo EDQueer, o qual coordena desde 2021. Tem experiência na área de Linguística atuando principalmente nos seguintes temas: Ensino-aprendizagem de Língua Espanhola, Ensino-aprendizagem de Gramática, Marcadores e Conectores Discursivos, Análise do Discurso, Educação Linguística e Estudos Queer.
Leandra Cristina de Oliveira, presidenta da Diretoria Hispanismos y reencuentros (2022-2024), é doutora em Linguística (PPGL/UFSC), com mestrado no mesmo Programa e Pós-doutorado no Centro de Estudios Lingüísticos y Literarios do El Colegio de México (COLMEX). É professora associada de língua espanhola e linguística no Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras (DLLE/UFSC) e professora do quadro permanente no Programa de Pós-graduação em Linguística (PPGL/UFSC), conduzindo e orientando pesquisas de Iniciação Científica, TCC, Mestrado e Doutorado nas linhas de descrição linguística, variação e Mudança (espanhol e português), com enfoque, também na aplicação (ao ensino e à tradução). Ainda no âmbito da pesquisa, coordena o núcleo Estudios en corpus del español escrito con marcas de oralidad (CEEMO). É docente há vinte e três anos, com experiência nos diferentes contextos de ensino-aprendizagem: Educação Básica, Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional e Tecnológica e Ensino Superior.
Wagner Monteiro, primeiro-tesoureiro da Diretoria Hispanismos y reencuentros (2022 - 2024), é doutor em Letras (UFPR), com mestrado no mesmo programa e Pós-doutorado pela USP. É professor adjunto de língua e literatura espanhola no Instituto de Letras e de Tradução no Programa de Pós-graduação em Letras da UERJ. Foi professor visitante na Universidad Complutense de Madrid. Atualmente desenvolve pesquisa na área de estudos descritivos do espanhol e de tradução. Traduziu diversas obras de autores espanhóis, entre elas El arte nuevo de hacer comedias en este tiempo, de Lope de Vega; Doña Perfecta, de Benito Pérez Galdós; La vida fantástica, de Pío Baroja. É autor de Introducción a la teoría poética del Siglo de Oro español.
Viviane Garcia de Stefani, vice-presidenta da Diretoria Hispanismos y reencuentros (2022-2024), é doutora em linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), na área de ensino e aprendizagem de línguas, com ênfase em ensino/aprendizagem de língua estrangeira (inglês e espanhol). É graduada em Letras/inglês e em Letras/espanhol pela mesma universidade, onde recentemente concluiu estudos em nível de pós-doutorado na área de Internacionalização. É docente há 20 anos, e há 15 atua no ensino superior. É professora efetiva de espanhol, português e inglês no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFSP) - campus São Carlos, onde ministra aulas nos cursos integrados, graduação e na pós-graduação em Educação: Ciência, Tecnologia e Sociedade, além de coordenar projetos de extensão e eventos voltados para a diversidade cultural, sobretudo no que se refere à cultura espanhola e hispano-americana. No IFSP também atua na Assessoria de Relações Internacionais (ARINTER) como Gestora de Acompanhamento de Mobilidade In e Out. É membro dos grupos de Pesquisa: GPLIES - Grupo de Pesquisa sobre Políticas Linguísticas e de Internacionalização da Educação Superior; e PRODELE - Profissionalidade Docente e Ensino de Língua Espanhola, ambos cadastrados no CNPq. Desenvolve e orienta pesquisas nas áreas de: Formação de Professores, Internacionalização, novas tecnologias educacionais, diversidade cultural, Teoria da Atividade, Letramentos Críticos, entre outros temas das áreas da linguística e educação.
Antonio Ferreira da Silva Júnior, segundo-secretário da Diretoria Hispanismos y reencuentros (2022-2024) é doutor em Letras Neolatinas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituição onde também defendeu seu Mestrado e cursou sua Graduação em Letras (Português-Espanhol). Desenvolveu pesquisa de estágio pós-doutoral em Linguística Aplicada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e em Educação na Universidade de São Paulo (USP). Professor Titular de Língua Espanhola da UFRJ, atuando no Colégio de Aplicação e no Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Faculdade de Letras (Estudos Linguísticos/Espanhol). Foi docente e pesquisador do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ) por mais de 10 anos, onde assumiu distintos cargos de gestão e participou de comissões de elaboração de projetos pedagógicos de cursos de Graduação e Especialização na área de ensino de línguas. Tem interesse e orienta pesquisas de pós-graduação na área de Linguística Aplicada com ênfase nos seguintes temas: formação de professores de espanhol, ensino de espanhol na educação profissional, licenciaturas nos Institutos Federais, narrativas docentes e línguas para fins específicos. Foi organizador de uma obra acadêmica de caráter nacional intitulada “Ensino de espanhol nos Institutos Federal: cenário nacional e experiências didáticas”, publicada pela Editora Pontes, no ano de 2017. Vice-líder do Grupo de Pesquisa “Laboratório Interdisciplinar Latino-Americano” (UFRJ-CNPq). Foi Vice-presidente da Diretoria Hispanismos y reencuentros da Associação Brasileira de Hispanistas (ABH - gestão 2020-2022).
Jorge Rodrigues de Souza Júnior, primeiro-secretário da Diretoria Hispanismos y reencuentros (2022-2024). Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). É professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), campus São Paulo, desde 2014, onde atua como docente de língua espanhola para cursos do Ensino Médio e Superior e de disciplinas na área de Linguística para o curso de Licenciatura em Letras. Orienta pesquisas de Iniciação Científica e TCC em nível de pós-graduação na Especialização em Docência na Educação Superior do IFSP São Paulo. É membro da Comissão de Linguística Aplicada da Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN) e membro de comissões científicas de periódicos e de congressos nas áreas de Linguística Aplicada e de Linguística. São suas áreas de interesse e de pesquisa: Ensino e Aprendizagem de Espanhol como Língua Estrangeira, Língua Espanhola, Análise do Discurso Materialista, Glotopolítica e Decolonialidade do saber. Foi presidente da Associação de Professores de Espanhol do Estado de São Paulo (APEESP) por duas gestões: (2016-2018) e (2018-2020), sendo atualmente membro do Conselho Consultivo da APEESP. Foi membro do Conselho Consultivo (2018-2020) e presidente da Associação Brasileira de Hispanistas (ABH), na Diretoria Hispanismos y reencuentros (2020-2022).
Isabel Rivas
Por Cícero Anastácio Araújo de Miranda (UFC)
A Prof. Sofia Elena Isabel Rivas Maximus inaugurou, como professora, a Casa de Cultura Hispânica, primeira das casas de Cultura da Universidade Federal do Ceará, no dia 12 de outubro de 1961.
A Professora Isabel foi pioneira no Estado do Ceará em implantar ações voltadas ao ensino da língua espanhola, a internacionalização das relações da UFC com os países de idioma espanhol e de formação de professores.
Foi ela quem trouxe, depois de articulação com a Embaixada da Espanha em Brasília, junto ao Sr. Sanders, assessor daquele órgão consular, os diplomas do DELE (Diploma espanhol como Língua Estrangeira), em maio de 1994, para Fortaleza passar a ser centro aplicador do referido certificado, exigido para estudantes que desejam estudar na Espanha.
Foi coordenadora da Casa de Cultura Hispânica durante 10 anos, sendo seu último mandato de 1991 a 1994, quando se aposentou.
Por suas mãos passaram diversos estudantes que hoje são professores da UFC e de outras instituições.
Antes de se aposentar, em 1993, restituiu a cátedra de língua espanhola, que estava fechada, junto ao Departamento de Letras Estrangeiras, assumida pela professora Massília Dias.
Faleceu em 18 de agosto de 2016.
Janeiro de 2022
Elzenir Colares
Por Cícero Anastácio Araújo de Miranda (UFC)
Elzenir Alberto da Silva nasceu em Fortaleza no dia 18 de maio de 1935, sendo a filha mais velha do professor e artista plástico Jaime Silva e de sua esposa Francisca de Assis Ramos.
Adotou o nome ELZENIR COLARES, como é conhecida nos meios docente e artístico, após casar-se com o também professor Maurício Colares.
Começou seus estudos no Colégio Santa Cecília e ali continuou até terminar o segundo grau (hoje Ensino Médio). Graduou-se em Letras, línguas Anglo-Saxônicas, na antiga FAFICE (Faculdade de Filosofia do Ceará) e também em Música, no Conservatório de Música Alberto Nepomuceno.
Através de curso patrocinado pela CAPES, obteve licença para lecionar Educação Física e Recreação. E foi exatamente como professora de Educação Física e Recreação que começou sua vida docente numa Escola Estadual do “Barro Vermelho”, hoje bairro Antônio Bezerra. Foi professora de Inglês no Ginásio Santa Maria Goretti, onde fundou uma banda musical: “As Milionárias do Ritmo”, atuando como baterista. Lecionou Inglês em colégios da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos.
Estudou espanhol na Casa de Cultura Hispânica da UFC e depois foi uma das primeiras professoras dessa instituição e também coordenadora. Foi agraciada com uma bolsa de estudos para aperfeiçoar seus conhecimentos de língua, literatura e cultura espanholas, viajou para a Espanha e ali, além das atividades discentes fez curso de danças espanholas na “Academia Milagros Acuña”, em Madri.
Ao regressar, fundou o Grupo Folclórico Hispano-Brasileiro que depois passou a se chamar Grupo de Tradições Cearenses. Contudo, continuou com as atividades de Professora de Espanhol, divulgando a língua de Cervantes e conquistando, cada vez mais, adeptos ao hispanismo.
Foi aprovada em 1º lugar em concurso realizado pela Junta Comercial do Estado do Ceará para Tradutor Público e Juramentado de Língua Espanhola, exercendo essa função até o ano de 2013.
Foi uma das fundadoras da Associação de Professores de Espanhol do Estado do Ceará (APEECE), onde sempre trabalhou para desenvolver o ensino de língua espanhola no nosso Estado. Presidiu a APEECE por duas gestões e foi responsável pelo IX Congresso Brasileiro de Professores de Espanhol, em 2001. Responsabilizou-se, juntamente com outros professores, pela reabertura do Curso de Espanhol na Universidade Estadual do Ceará e, pelas suas mãos, passaram grandes mestres.
Elzenir Colares já recebeu várias homenagens no Ceará e em outros estados brasileiros. Dentre elas está a outorga da Medalha Boticário Ferreira, concedida pela Câmara Municipal de Fortaleza e a Comenda Patativa do Assaré, concedida pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará.
Janeiro de 2022
Alai Garcia Diniz
À mestra Alai Garcia Diniz, com carinho
Por Rosangela Schardong (UEPG)
Dizer que atuou como professora, pesquisadora, doutora, orientadora, poeta, performer, diretora, tradutora, que é autora de livros e de dezenas de artigos, roteirista, agente cultural, portando e mobilizando múltiplos talentos, esboça apenas um panorama das muitas atividades a que se dedicou, em sua carreira, a Prof.ª Dr.ª Alai Garcia Diniz, uma das professoras que mais fortemente contribuiu para a minha formação, em minha trajetória acadêmica. Uma das pessoas que me ensinaram sobre a arte da vida, dando-me a mão e o coração ao longo da jornada. Conheci a Prof.ª Alai nos bancos do curso de Letras Português e Espanhol da Universidade Federal de Santa Catarina, nas aulas de literatura, lá pelos idos de 1989.
Com ela aprendi a perceber as relações de gênero, de raça, de poder e tantas outras que eu ainda não tinha atinado (como se diz em Florianópolis). Nas suas aulas de literatura o meu mundo ficou maior, através de obras, autores, poemas e narrativas das mais diversas partes do mundo hispânico. Em suas aulas tudo ficava fascinante, pois a sua experiência como professora primária, como menina de Arujá, como militante política, como exilada, como mãe e como cidadã faziam as complexas construções literárias mais palatáveis e compreensíveis para nós, aprendizes, iniciantes em decifrar as redes de sentido do tempo, do espaço, dos símbolos, dos afetos de tantos mundos novos que nos eram apresentados em forma de ensaios, contos, romances, poemas e peças de teatro.
Suas estratégias de ensino de literatura, Prof.ª Alai, foram um grande legado, enriquecido por sua incessante busca pelo saber que, em suas aulas, sempre se fazia acompanhar pela fruição do texto literário. Não repetia autores e obras no mesmo programa, o que impedia as receitas prontas, o copiar e colar de um ano para o outro. Assim, não facilitava o nosso caminho, com autores aparentemente indecifráveis, como Valle Inclán, César Vallejo e Juan Rulfo, textos de um passado distante, como Sor Juana Inés de la Cruz, ou Santa Tereza de Ávila; textos carregados de ideias políticas, como Facundo; de ideais poéticos, como El arco y la lira; de sonoridade negra, como a poesia de Nicolás Guillén; de erudição, como nos versos de Quevedo; de sabedoria indígena como em Popol Vhu; de tragédia, como Fuente Ovejuna e La casa de Bernarda Alba, ou de força feminina, como nos versos de Juana de Ibarburu e de Cristina Peri Rossi. O mundo hispânico, com toda sua diversidade e riqueza, transitou vigoroso por suas aulas memoráveis, sempre fazendo o convite para que continuássemos a jornada da leitura, da pesquisa e do ensino de literatura.
Não esqueço do meu assombro quando ouvi a Prof.ª Alai dizer que não tinha religião. Até então pensava, na minha inocência juvenil, que aquele que não tinha religião era sinistro. É que eu ainda não conhecia o significado de ética. Conceito que ela me ensinou, não em sala aula, mas como práxis do seu dia-a-dia, em uma vida muito bem vivida, em seus projetos, feitos e conquistas.
Aposentada pela Universidade Federal de Santa Catarina, Alai ainda se mantém ativa, atuando no Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Sua trajetória de trabalho e pesquisa somam um grande legado para o hispanismo no Brasil, com os livros e artigos que escreveu, com suas traduções, com as inúmeras pesquisas, dissertações e teses defendidas sob sua orientação, com sua participação na Associação de Professores de Espanhol do Estado de Santa Catarina (APEESC) e na Associação Brasileira de Hispanistas (ABH). Vale destacar que foi uma das fundadoras da ABH (Associação Brasileira de Hispanistas), em 2000, foi a presidente da comissão organizadora do III Congresso Brasileiro de Hispanistas, em 2004, em Florianópolis, e esteve na comissão organizadora do IX Congresso Brasileiro de Hispanistas (2016), realizado em Foz do Iguaçu.
Esteve à frente do Conselho Editorial da Revista ABEHACHE, nº 13, Política(s) no mundo hispânico (2018), colaborou como membro do conselho e parecerista ad hoc em várias outras edições. Fundou o NELOOL (Núcleo de Estudos de Literatura, Oralidades e Outras Linguagens), núcleo que criou o Congresso Internacional Roa Bastos (em 2006), evento itinerante que já chegou à sua 10ª edição, além de dar contribuição efetiva na criação e organização de outros muitos eventos, simpósios e congressos sumamente relevantes para a difusão do hispanismo no Brasil.
No universo das artes, em 1987 criou o grupo Jaleo Jaleo, grupo de performances, juntamente com a Prof.ª Dr.ª Luizete Guimarães Barros, colega de trabalho na UFSC, na direção do grupo e parceira em inúmeros projetos. O Jaleo Jaleo ajudou a difundir a poesia, a dramaturgia e a cultura em língua espanhola em vários eventos acadêmicos e culturais, reunindo alunos da graduação e pós-graduação da UFSC, entre outros integrantes. Foi bastante ativo até o ano 2000, quando passou a se chamar Corpo de Letras. O grupo permenece ativo, aguardando o próximo convite para atuar.
Minha memória afetiva selecionou esses fatos como os mais destacados da carreira da Prof.ª Alai. Contudo, eles não são um justo retrato das atividades que a tornam reconhecida e admirada como uma hispanista de destaque. Vou procurar traçar um retrato mais fidedigno de sua grande dedicação, aplicação e luta pelo hispanismo, pela educação pública e pela poesia.
A Prof.ª Alai Garcia Diniz fez toda a formação em Letras, Português e Espanhol na Universidade de São Paulo (USP), na área de Literaturas Espanhola e Hispano-Americana. Em 1992 defendeu o mestrado com o título Rafael Barret: la crónica ácrata en el Río de la Plata e em 1997 obteve o título de doutora, defendendo a tese Máquinas, corpos, cartas: imaginários da Guerra do Paraguai, ambas pesquisas sob a orientação do Prof. Dr. Jorge Schwartz. Entre 1995 e 1996 esteve na Yale University, para desenvolver a pesquisa de doutorado, iniciando sua atuação como professora pesquisadora em diferentes universidades. Desde 1987, atuou como docente na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Suas atividades se concentraram na graduação em Letras Português e Espanhol, mas se estenderam ao Programa de Pós-Graduação, à criação (2008) e coordenação do curso de Artes Cênicas (2008 a 2010). Atuou como Professora Visitante Sênior (CAPES) na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), onde ajudou a criar a Mestrado Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos (IELA/UNILA), organizou livros, ajudou a criar a Revista Sures e fomentou parcerias internacionais.
A Prof.ª Alai se aposentou após somar 41 anos de magistério, sempre no ensino público, entre eles 26 anos dedicados à docência universitária. Incansável, desde 2016 atua como Professora Visitante Sênior no Programa de Pós-Graduação em Letras da UNIOESTE (Cascavel), orientando pesquisas de mestrado e doutorado.
A Prof.ª Alai já orientou 29 dissertações de mestrado, 32 teses de doutorado, 8 monografias de cursos de especialização, 7 trabalhos de conclusão de curso e 5 pesquisas de iniciação científica, números que indicam seu grande fôlego, potencial e dedicação à formação de novos e de experientes pesquisadores, o que a faz ser constantemente convidada para participar de bancas de defesa.
Como pesquisadora, a Prof.ª Alai criou e participou de inúmeros projetos e grupos de pesquisa, destacando-se sua participação no GT Dramaturgia e Teatro, da ANPOLL (desde 2000). Dotada de grande capacidade investigativa, seu interesse estendeu-se por várias áreas, que seria longo enumerar. Abstenho-me desta tarefa, pois me parece desnecessária para indicar a vigorosa capacidade da Prof.ª Alai de ler o mundo, as letras, as artes cênicas, a oralidade, a poesia, a pulsante vida da fronteira, da condição das mulheres, da população indígena e das periferias urbanas, sempre com olhos e pensamento críticos.
Suas publicações, entre artigos, capítulos de livros, produção cartonera e livros, somam títulos que representam o leque de interesses a que a professora investigadora se dedicou.
Entre as traduções publicadas, é importante mencionar O que são os ervais, de Rafael Barret (Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2012), ensaio de forte denúncia social. Também a coletânea Vinte poetas cubanos do Século XXI (Florianópolis: Ed. UFSC, 1995), traduzidos em parceria com a Prof.ª Luizete.
O vasto número de suas publicações ilustra como, ao longo de sua trajetória acadêmica, a Prof.ª Alai promove parcerias e trabalha a muitas mãos, expressando muitas vozes.
Seu currículo Lattes lista e organiza numericamente, em categorias, o conjunto de suas publicações, que a CAPES e o CNPq transformam em números, em tabelas, em pontos, que de forma alguma quantificam ou traduzem a sabedoria que uma professora com a trajetória da Prof.ª Alai pode expressar por intermédio de seus textos impressos, performáticos, audiovisuais ou orais.
Minha eterna gratidão, Prof.ª Alai, pelo seu magistério, por sua presença em minha vida, guiando a minha formação acadêmica e minha leitura do mundo, assim como faz entre muitas gerações de estudantes de Letras, em diferentes universidades, grupos de pesquisa e saraus. Como amiga, Alai segue me ensinando como ser forte, tenaz, na luta pela dignificação da educação pública, do ensino de espanhol, dos direitos das mulheres, da cultura indígena, do valor da periferia e da boa poesia, em todas as suas formas. Minha gratidão por deixar, em cada uma de suas lições, a sua alma pulsante, valente, e todo o seu lirismo, que não cabe em nenhum dos campos do currículo Lattes.
Janeiro de 2023
Vera Lúcia de Albuquerque Sant”Anna
Por Alice Moraes, Cristina Giorgi, Dayala Vargens e Fabio Sampaio
Quem nunca viu a professora chorar? Com emoções à flor da pele, o amor da Vera pela educação, pela pesquisa, pela filosofia, pela arte, pela cultura, pela ciência é contagiante. Aulas planejadas, criativas e desafiadoras marcam a memória dos seus ex-alunos e são sempre uma grande inspiração! Ela, de uma de nós, ouviu a frase: “Agora sim sinto estar refletindo sobre como ensinar uma língua!” E quantas vezes ouvimos dela:”Não é pra responder agora; é só pra pensar…”
Verinha é uma professora muito exigente, de sorriso largo e coração generoso. Sabe uma professora daquelas que ninguém esquece? É ela! Aquela que faz você entender que está estudando uma coisa que não entende, mas que quer muito aprender para poder ensinar.
Vera é de uma geração que desfrutou integralmente da escola pública, como estudante e como professora. E que contribui para essa escola pública, formando alunas e alunos na e para a educação pública. Estudou o antigo primário na Escola Municipal José Bonifácio. O ginásio e o científico no Colégio Pedro II e a faculdade na UFRJ. Atuou como professora de cursos de línguas e na rede estadual, no ensino médio. Ingressou na UERJ em 1981. Nesse mesmo ano, foi uma das sócio fundadoras da Associação de Professores de Espanhol do Estado do Rio de Janeiro (APEERJ).
Além de atuar como professora formadora de futuros professores de língua espanhola, Vera teve diversos orientandos nos cursos de pós-graduação lato e stricto sensu do Instituto de Letras da UERJ. Fora da sala de aula, atuou em outros âmbitos da universidade. Foi assessora da vice-reitoria e da sub-reitoria de pós-graduação e pesquisa, chefe de departamento, coordenadora de pós-graduação e coordenadora de setor.
É, sem dúvida, uma pessoa brilhante, que nos afeta e provoca com sua professoralidade para muito além dos muros da UERJ, como numa carona de táxi, em breves conversas nos corredores de uma universidade Brasil afora, ao nos receber em sua casa às 7h da manhã para emprestar um livro… Dessa forma leve e despretensiosa, sendo Vera, tornou e torna possível a realização de incontáveis sonhos!
Abril de 2022
Del Carmen Daher
Por Alice Moraes, Cristina Giorgi, Dayala Vargens e Fabio Sampaio
De voz suave e potente, grande defensora da educação pública, professora até o último fio de cabelo, a trajetória de Del Carmen afeta lugares e pessoas que jamais poderemos mensurar…
Seu Lattes, apesar de extenso, mostra apenas uma pequena parte do compromisso, do profissionalismo e da entrega com que ela encara o ser / fazer/ sentir docente num país de tantos desafios e obstáculos como o nosso. Há um tanto de Del mundo afora: na Secretaria Municipal de Educação do RJ, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), na Université de Paris XII - Val de Marne, na Universidade Federal Fluminense (UFF) - onde atua agora -, nos seus alunos, nos seus colegas de trabalho, nos seus amigos e admiradores..
Das turmas de alfabetização às de pós-graduação, atuou como professora em diferentes níveis e instituições. A UERJ marca o início de sua admirável trajetória como pesquisadora e formadora de professores no Instituto de Letras. Interessada na interface dos estudos discursivos e do trabalho docente, Del Carmen, além de dar aulas de Língua Espanhola na graduação, orientou dezenas de mestrandos e doutorandos no âmbito dos estudos da linguagem. Aposentada pela UERJ, em 2009, inaugura sua história como professora da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Para Del, sua atuação como hispanista não se descola de sua luta pela democracia, pela igualdade de direitos, pela justiça social… A escola pública democrática está nas suas pesquisas, nas suas aulas, na sua história profissional e pessoal, no modo como abre as portas de sua casa para nos orientar, com direito a "merenda" e tudo!
Foi, ainda nas aulas de espanhol da graduação da UERJ, que conhecemos a Del Carmen. E foi ela que nos apresentou a Associação Brasileira de Hispanistas. Conduzidos pela Del, vários ex-alunos, como nós, também se tornaram professores e pesquisadores que compartilham do propósito de levar o amor pelo hispanismo como um caminho para a formação crítica e emancipatória para dentro da escola.
Abril de 2022.
Sâmia Maria do Socorro Pontes El-Hassani D’ávila
Por Dalbi José Damasceno Pires D’ávila (UFAC)
É um orgulho e honra, ao mesmo tempo poder falar da importância de Sâmia Maria do Socorro Pontes
El-Hassani D’ávila em nossas relações acadêmicas e pessoais, o sentimento que surge de momento e de sempre é gratidão pela oportunidade de termos mergulhado no mundo da língua espanhola, ao ingressarmos, em 1994 na turma que inaugurava o ensino de graduação em Letras Espanhol na Universidade Federal do Acre, e sendo recepcionados pela Professora Sâmia, que nos acompanharia ao longo de todo o curso. Com a Professora Sâmia El-Hassani descobrimos o mundo da linguagem e da literatura de línguas espanholas, viajando através dos livros que nos mostravam as belezas de terras longínquas e de tempos distantes e atuais.
Sâmia Maria do Socorro Pontes El-Hassani D’ávila iniciou seus estudos de Graduação em Letras Português/Inglês no CEUB em Brasília, tendo que mudar logo em seguida para a cidade de Campos dos Goytacazes no Rio de Janeiro, transferindo seu curso para a Faculdade de Filosofia de Campos, e, consequentemente mudando o curso para Letras Português/Espanhol, aproveitando a bagagem que trouxera dos quatro anos vividos em Ciudad Bolivard na Venezuela.
Ainda criança, sua família saiu do Acre em busca de melhores oportunidades na Venezuela e, após vinte e quatro anos, retorna à sua terra natal, aprova no concurso da Universidade Federal do Acre em 1992 e em 1994 assume o cargo e implanta a Licenciatura em Letras Português/Espanhol na instituição.
Ao longo de dez anos esteve na Ifes como única professora efetiva do curso, contando com a colaboração de professores de outras universidades do Brasil, da Espanha e de Cuba. Em sua trajetória de 35 anos no magistério superior, esteve à frente da Coordenação do curso por diversas vezes, participou de três processos de reformulação, formou mais de 80% dos professores que atuam na área, nas redes estadual e municipal.
Deixa um grande legado, pois todos os professores que hoje são efetivos na Universidade Federal do Acre foram seus alunos, ou seja, a estrela sai de cena para que seus discípulos possam brilhar e trilhar o próprio caminho.
É com imensa satisfação que podemos afirmar que a homenagem é mais que merecida a quem tanto contribuiu para a expansão do espanhol no Estado do Acre.
Março de 2022.
Valeria de Marco
Por Karina Arruda Cruz (IFSP)
Semblanza de Valeria De Marco
Valeria De Marco iniciou sua carreira docente em 1974 na Universidade de São Paulo, onde se graduou e realizou os estudos de mestrado e de doutorado em Teoria Literária e Literatura Comparada. É professora titular de literatura espanhola na mesma universidade desde 2006.
Entre outras atividades proeminentes,é vice-presidente do conselho editorial da editora da universidade (Edusp), membro do conselho do Instituto de Estudos Avançados e coordenadora pelo Brasil do projeto Editores y editoriales ibero americanos (siglos XIX-XXI), EDI-RED, promovido pelo Consejo Superior de Investigaciones Científicas.
Educadora entusiasmada e dedicada, acredita que a missão da educação seja formar para a cidadania.Erudita, é notável mediadora entre o Brasil e a produção da Espanha da guerra civil e do exílio republicano de 1939, com publicações no Brasil e em outros países.
Transita entre todos os períodos da literatura espanhola. Transita entre a literatura, a história, a filosofia, o cinema. É responsável inclusive pela edição, com estudo introdutório e notas,de Campo francés (Castalia), romance de Max Aub que deve ser lido/ visto.
Aprendemos com Valeria que a prática de leitura dos textos poéticos – nos termos de Frye – é leitura de estudioso e leitura para fruição. E, assim, nos ensina a conviver com personagens e histórias engenhosas e inesquecíveis.
Temos imensa alegria em render esta merecida homenagem à humanista Valeria De Marco, uma das maiores hispanistas do país e um desses intelectuais a quem é possível atribuir um legado.
Outubro de 2021.
Maria de Lourdes Martini
Por Magnólia Barbosa Brasil do Nascimento
“Que tal fundarmos a Associação de Professores de Espanhol do Estado do Rio de Janeiro”? Essa pergunta me foi feita, em um intervalo de aulas de Língua e Literatura Espanhola, no corredor do antigo prédio, onde funcionava o Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense, a UFF, pela Profa. Dra. Maria de Lourdes Cavalcante Martini. Era um tempo em que as salas de aula de Espanhol contavam com poucos alunos, uma vez que essa disciplina não tinha lugar no curriculum escolar brasileiro. Tratava-se, portanto, de uma “revolução” o que vinha embutido nessa proposta. A Língua Espanhola já fizera parte da grade curricular. Eu mesma tivera aulas de Espanhol no antigo Curso Clássico, pois eu pretendia cursar Letras, na Universidade.
Naquela época, meados dos anos 50, as salas de aula do Curso Clássico contavam com umas 12 a 15 alunas e uns 3 a 5 alunos; e não demorou para o Espanhol ser retirado da grade curricular daquele segmento. Na verdade, naquela pergunta da Prof. Maria de Lourdes ao grupo de professores de Espanhol do Instituto de Letras da UFF, estava embutido um projeto maior: a reintrodução da Língua Espanhola e seu rico universo cultural na grade curricular das escolas brasileiras, a começar pelo Estado do Rio de Janeiro. A mesma pergunta foi feita aos colegas da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e, também, à Prof. Maria Teresa da Silva Venâncio, Diretora e Professora de Espanhol da então Faculdade de Campos, no norte do Rio de Janeiro. Espalhada a pólvora, o pavio foi acesso no dia 15 de outubro de 1981: com a presença de 29 professores em assembleia, a partir de então sócios fundadores, foi criada a primeira Associação de Professores de Espanhol do Brasil, localizada no Estado do Rio de Janeiro, a APEERJ. E não poderia ser outra, senão a Prof. Dra. Maria de Lourdes Cavalcante Martini, sua idealizadora, a presidente daquela primeira diretoria. A sede? Um armário na casa da presidente, onde ficavam guardados zelosamente a Ata da fundação e todos os documentos da APEERJ.
Uma vez fundada nossa Associação, tocava empreender a luta contra o preconceito linguístico, aquele que ignora a extraordinária importância da Língua Espanhola, considerando-a, por desconhecer sua riqueza cultural, literária e histórica, apenas como o “Português mal falado”.
O nome da niteroiense Prof. Maria de Lourdes, carinhosamente chamada de Lolita por todos os que a conheciam mais de perto e por seus alunos, talvez não seja suficientemente conhecido pelos professores de hoje, que voltam a defender, com entusiasmo, a permanência do Espanhol como língua estrangeira na Escola Brasileira. Nunca foi fácil e nunca os hispanistas fecharam os olhos para a riqueza cultural que lhes cabia e cabe defender. Mas é imprescindível que conheçam a Prof. Maria de Lourdes, por sua cultura, seu caráter, sua dedicação ao trabalho, sua crença na Educação. E é um nome que deve ser dito e repetido com reverência, porque foi sua luta contínua, junto a outras pessoas que se reconhecerão neste relato, que trouxe de volta a Língua Espanhola à Escola Brasileira, de onde nunca deveria ter saído.
Aquela jovem e admirável professora, em sala de aula, ia muito além do que “cumprir a programação”. Ela trabalhava para formar cidadãos críticos, interessados em desvelar o mundo. A tradutora da grande obra de Pedro Calderón De La Barca (os que conhecem essa obra compreenderão a dimensão desse trabalho) propunha tarefas desafiadoras, despertando o que possivelmente estivesse adormecido, levando seus estudantes a descobrir um mundo novo e fascinante através da poesia, da narrativa, do teatro. Da mesma forma, o enlouquecido paladino do bem com seu leal escudeiro ganhavam corpo, passavam a despertar o interesse e a vontade de ir além, daqueles jovens.
Também não é possível ignorar outro marco em sua vida: a criação do Teatro Quintal, em São Francisco, Niterói, com uma curiosa característica: funcionava no quintal da casa de uma de suas primas e todos os que estavam envolvidos em seu funcionamento eram da mesma família, da vendedora de ingressos à figurinista, a saudosa Dona Branca, mãe de Lolita. Eram uma alegria as tardes passadas naquele saudoso Quintal. Uma de suas peças, “A história da moça preguiçosa”, recriação de um original clássico, mereceu o prêmio Molière de Teatro Infantil.
Essa bela parte da história de vida da Profa. Dra. Maria de Lourdes Cavalcante Martini é, como as demais, extraordinária e ficou gravada na alma de cada membro daquele grupo de teatro e na de crianças e adultos que tiveram a alegria de frequentar o inesquecível Teatro Quintal.
Espero não ter deixado de mencionar algum outro fato importante da vida dessa Professora extraordinária que teve força e coragem para lutar o bom combate, vencendo moinhos de vento e concretizando seus sonhos que continuam a dar bons frutos! AVE LOLITA!
Novembro de 2021
Antonio Roberto Esteves
Por Isis Milreu (UFCG)
É uma honra ter sido convidada para falar sobre o professor Antonio Roberto Esteves e suas contribuições ao hispanismo brasileiro. Nossos caminhos se cruzaram quando cursava a graduação em Letras na UNESP, campus de Assis, momento em que tive a oportunidade de ser sua aluna nas aulas de literaturas hispânicas, as quais guardo com muito carinho em minha memória. O seu modo de ensinar literatura, dando vida ao texto literário, me inspirou a continuar meus estudos iniciais na Pós-graduação, na área de Estudos Literários. Nesta etapa formativa, Esteves foi meu orientador no Mestrado e no Doutorado, revelando sua afetividade, seriedade, generosidade, paciência, gentileza, ética e integridade, marcando a construção de minha identidade de pesquisadora. Desde então, considero-o não só um mentor intelectual, mas também um grande amigo que sempre está disposto a compartilhar seus conhecimentos e seu vastíssimo repertório cultural, mesmo depois de sua aposentadoria...
Sua jornada intelectual é admirável. Estudou na Unesp - São José do Rio Preto (Graduação e Mestrado), na USP (Doutorado) e na Unesp - Assis (Livre Docência), consolidando-se como um pesquisador proeminente na área de estudos hispânicos. Dentre as temáticas de suas pesquisas, sobressaem-se seus estudos sobre as relações entre a literatura e a história, cujas publicações tornaram-se referências em nosso país, transcendendo o âmbito do hispanismo. Internacionalmente, foi professor visitante na Universidad de Salamanca e pesquisador do Instituto de Literatura Ricardo Rojas. Nesses espaços, construiu uma significativa rede de contatos que, generosamente, compartilhou conosco, inserindo-nos em eventos e outras atividades acadêmicas.
Além de ser um renomado pesquisador, Esteves se destacou como professor de literaturas hispânicas na UNESP - Assis, onde atuou por 30 anos, tendo contribuído com a formação de centenas de professores de língua espanhola e de suas literaturas. Ali, orientou tanto pesquisas de Iniciação Científica quanto de Mestrado e Doutorado. Ainda supervisionou 3 pós-doutorados, totalizando 54 orientações. Obviamente, os números são impressionantes e refletem o seu compromisso com a formação docente e com a pesquisa em nosso país. Cabe frisar que muitos (as) de seus orientados (as) estão trabalhando em diversas universidades brasileiras na área de literaturas hispânicas, multiplicando seus ensinamentos.
Outra faceta deste grande intelectual, pesquisador e professor é o seu compromisso com a luta pela implantação da língua espanhola na educação brasileira, bem como com o desenvolvimento de pesquisas na área estudos hispânicos, manifesto em sua trajetória docente e em sua participação nas ações da Associação de Professores de Espanhol do Estado de São Paulo (APEESP) e da Associação Brasileira de Hispanistas (ABH), das quais foi presidente. Vale a pena recordar que Esteves é um dos fundadores da ABH e sempre nos incentivou a participar dessa associação. Seguindo seus conselhos, integro a ABH desde o início do Mestrado, tal como vários de seus (suas) orientandos (as).
Indubitavelmente, nosso querido professor Antonio Roberto Esteves contribuiu de inúmeras maneiras para a consolidação dos estudos hispânicos em nosso país. Sua atuação marcou minha formação e a de muitos (as) estudantes, particularmente, daqueles (as) que tiveram a chance de tê-lo como orientador, não só de nossas pesquisas, mas da vida. As “orientações” continuam em forma de mensagens e, principalmente, em nossos cafés, os quais têm sabores inesquecíveis, pois são adoçados com seu senso de humor, afeto, simpatia e sensibilidade.Assim, agradeço o privilégio de nossos caminhos terem se entrelaçado profissional e pessoalmente.
Outubro de 2021
Neide Maia González
Por Neide Elias (UNIFESP)
Será que quando nasceu um anjo torto disse a ela: Vai, Neide, ser gauche na vida? Não sabemos, la crónica ha perdido las circunstancias y no quiero inventar lo que no sé, como diz aquele narrador argentino. Talvez esse “estar no mundo” pode ter sido motivado por criaturas mais convincentes, como aquele gato que anos mais tarde iria ronronar no ouvido dela travessuras acadêmicas. Gato ou anjo, não importa, o fato é que Neide é gauche.
Desde muito cedo, pelo que me contou minha xará e pelo que podemos observar da sua trajetória, ela vem entortando e rompendo com as expectativas desse mundo “direito” e à direita. Curiosa, persistente e inteligente, Neide é uma mulher da qual todas nós, mulheres hispanistas, devemos ter orgulho. Soube mostrar seu valor, sua capacidade de trabalho e intelectual em um ambiente acadêmico machista. Sorte a do hispanismo, poderíamos tê-la perdido no meio do caminho não fosse a sua resistência.
Se dice que Neide não dispensa uma boa prosa, uma boa comida, um bom vinho e nem a luta por uma boa causa, sempre disposta para o que a gente não sabia, mas que hoje aprendemos a chamar de aglomeração. Dizem também que sabe fazer o melhor macarrão de saco do Pari. Concordo com a boataria, fui muitas vezes testemunha e partícipe desses eventos.
Nesses anos todos de convivência não saberia dizer quantas faces guarda Neide González, mas as da escuta, do senso de justiça e da luta estão sempre presentes nas palavras e sobretudo em suas ações. Isso foi, é e será sempre inspirador para seus alunos e colegas.
Setembro de 2021.
Heloisa Costa Milton
Por Antônio R. Esteves (UNESP)
Falar sobre minha querida amiga e colega Heloisa Costa Milton não é tarefa fácil. Amigos há várias décadas, fomos colegas na UNESP-Assis quase vinte anos. Ali reformulamos e demos vida aos estudos hispânicos que passaram a integrar o mapa do hispanismo brasileiro.
Licenciada, mestre e doutora pela Universidade de São Paulo, a Heloisa fez especializações na Espanha nos anos 70. No Mestrado e no Doutorado, ambos sob a firme orientação do professor Mario González, consolidou-se a pesquisadora. Uma vez integrada à carreira universitária, em Assis, formou centenas de professores de espanhol e dezenas de novos pesquisadores, seus orientandos de iniciação científica, mestrado e doutorado que, espalhados pela ampla geografia nacional, levam adiante seu trabalho.
Em sua vasta produção acadêmica, podemos constatar sua refinada leitura do texto literário, dedicando-se às várias áreas do hispanismo, especialmente nas literaturas de língua espanhola.Destaco, no entanto, seus trabalhos de literatura comparada, chamando atenção para os contrapontos com a literatura brasileira e as relações entre literatura e história. Suas leituras de Mario de Andrade à luz da picaresca clássica são bastante sólidas. O mesmo ocorre com a leitura do mito literário de Cristóvão Colombo, no entrevero de literatura e história. Também se dedicou à tradução: a que fizemos do Lazarillo de Tormes, para a editora 34, segue vigente.
Ativa, atuou nas diversas Associações. Participou da Associação de Professores de Espanhol do Estado de São Paulo, desde sua fundação. Foi presidente, ocasião em que organizou o Encontro de Professores de Espanhol em Assis.
Nos anos 90, um grupo de professores da UNESP de Assis, da USP e da UFF, com presença marcante da Heloisa, que sempre teve uma personalidade agregadora, criamos uma rede de intercâmbios.Eram mais que meras trocas acadêmicas, responsáveis pela introdução nos estudos hispânicos, da literatura comparada e dos estudos culturais. Construímos uma sólida amizade que, mesmo depois de sua aposentadoria, segue vigente. Desse modo, ela estava naquele grupo que discutiu a ideia da criação de uma associação brasileira de hispanistas e fundou a ABH no célebre congresso da UFF em 2000.
Sua presença elegante e sua atuação inteligente foram importantes na consolidação da ideia de hispanismo no Brasil. Disso é testemunha sua obra, ainda vigente, à disposição dos leitores interessados.
Agosto de 2021.
Bella Jozef
Prof. Silvia Cárcamo (Fac. de Letras – UFRJ)
Muito antes de que a literatura hispano-americana conquistara a apreciação internacional graças ao sucesso de vendas e de crítica do chamado boom, a professora Bella Jozef já tinha assumido como missão da sua vida o estudo e a difusão da literatura da América Hispânica. Dos muitos livros que ela publicou na sua trajetória como hispanista, gostaria de me deter agora na importância da História da Literatura hispano-americana, cuja primeira edição data de 1971. O fato de existirem mais três edições posteriores (1982, 1989, 2005) com as necessárias atualizações, constitui a prova do acerto da pesquisadora, quem advertiu a necessidade de contar no Brasil com uma história da literatura hispano-americana, publicada em Português e concebida por uma pesquisadora brasileira para um público amplo e de propósito didático.
Tenho diante de mim a segunda edição, a do ano de 1982. Na ocasião do lançamento do livro no Rio de Janeiro, o meu exemplar ganhou a seguinte dedicatória em Espanhol “aquí están los ríos y florestas, las cumbres y cielos, toda el alma de América y la mía” (assinado em 16 de agosto de 1982). Leio nessa frase a subjetividade da pesquisadora, comprometida com o seu objeto de estudo que ela não separava das suas vivências americanas. Sem dúvida que essa América incluía também o Brasil, e por isso não está ausente na sua obra menções a autores brasileiros.Numa obra que intencionava dar conta do processo literário hispano-americano desde seus começos, no século XVI, até o presente da escrita da obra, figuram também nomes fundamentais da literatura brasileira como Lucio Cardoso, Ciro dos Anjos, Érico Veríssimo, José Lins do Rego, Jorge Amado, Nélida Piñón, dentre outros muitos.
Bella descobriu cedo a sua vocação para os estudos das línguas neolatinas e suas literaturas.Por muitos anos deu aula de Francês e literatura francesa, e nesse universo de línguas e culturas estrangeiras, foi se gestando a sua paixão pelos estudos da literatura hispano-americana, ao lado de Manuel Bandeira, de quem foi discípula e colaboradora. No poeta e professor de Literatura hispano-americana, Bela Jozef, encontrou um modelo e um mestre.
Bella era incansável. Ela mesma atribuía a sua capacidade de trabalho e a sua energia infinita ao fato de ter sido a única filha muito amada de pais imigrantes russos. Parte dessa energia esteve destinada a orientar inúmeras dissertações de Mestrado e teses de Doutorado como professora pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da UFRJ, de modo que seus muitos orientados devemos a ela a possibilidade de encontrar nas suas aulas da UFRJ um espaço de estudo da literatura escrita na América em língua espanhola. Todos lembramos dos seus cursos de assuntos atuais, afinados com a crítica internacional, com propostas bibliográficas atualizadas e, especialmente, guardamos para sempre o clima agradável e de confiança que ela criava nas aulas.
Agosto de 2021.
Ana Mariza Benedetti
Por Isadora Gregolin (UFSCar)
A querida professora Ana Mariza Benedetti, sócia-fundadora da Associação Brasileira de Hispanistas (ABH), atuou como docente de língua espanhola na UNESP, campus de São José do Rio Preto, de 1995 a 2016, ano em que se aposentou e decidiu se dedicar a projetos pessoais no sul do país.
Ao longo de sua trajetória,desenvolveu pesquisas em Linguística Aplicada com foco na análise e tratamento de erros, ensino para fins específicos, interculturalidade e, na última década, foi uma das coordenadoras responsáveis pelo projeto institucional “Teletandem Brasil”.
Em sua comprometida atuação nos âmbitos de ensino, pesquisa e extensão, sempre buscou reafirmar a importância da formação de professores de espanhol para a atuação em escolas da Educação Básica no Brasil.
Sempre generosa e disposta ao diálogo e à escuta atenta, Ana Mariza foi responsável pela formação de muitos mestres e doutores hispanistas, cujas pesquisas focalizam processos de ensino e aprendizagem de espanhol a partir de perspectivas teóricas diversas.
Com muita seriedade e comprometimento, ela também desempenhou diversos cargos administrativos, organizou importantes eventos no país e publicou textos de referência em sua área de atuação.
Embora tenha partido no início de 2021,as sábias palavras e conselhos da Ana Mariza ecoam na atuação daqueles que puderam com ela conviver e aprender que a vida acadêmica pode ser vivida de forma leve, alegre e intensa.
Agosto de 2021.
Maria Augusta da Costa Vieira
Por Wagner Monteiro (UERJ)
Falar da trajetória da professora Maria Augusta da Costa Vieira faz com que celebremos a notável hispanista brasileira e, ao mesmo tempo, prestemos uma homenagem aos estudos do Século de Ouro e, mais especificamente, cervantistas no Brasil. Se suas diversas publicações por si só já justificariam a afirmação de que sua carreira é notável, a escolha como acadêmica correspondente da Real Academia Española, em 2016, corrobora este asserto.
A professora Maria Augusta começou sua bela trajetória acadêmica na Universidade de São Paulo, em 1977, onde desde 2014 é professora titular de literatura espanhola. Tanto seu mestrado como seu doutorado tiveram o Dom Quixote como objeto de análise. O título de sua dissertação, O dito pelo não dito: Dom Quixote no Palácio dos duques seria retomado em uma de suas mais importantes publicações, O dito pelo não-dito. Paradoxos de Dom Quixote. Tanto seu mestrado como o doutorado foram orientados pelo saudoso professor Mario Miguel González, com quem idealizou, como sócia-fundadora ao lado de grandes hispanistas brasileiros, a Associação Brasileira de Hispanistas.
De 2002 a 2007 foi membro da direção da Asociación Internacional de Hispanistas e de 2009 a 2015 da Asociación de Cervantistas. Foi em 2015 que organizou o IX CINDAC (Congreso Internacional de la Asociación de Cervantistas) com sede na Universidade de São Paulo. Para os hispanistas brasileiros, foi um momento histórico, já que pela primeira vez na história o maior congresso de cervantistas do mundo se realizava em um país americano.
Como professora na FFLCH, Maria Augusta foi responsável pela formação de uma centena de estudantes, orientando trabalhos em níveis de graduação, mestrado, doutorado, e supervisionando pós-doutorados. Uma de suas marcas mais sobressalentes é o incentivo sempre constante a seus orientandos que se arriscam a analisar a literatura do Século XVII.
Desde que entrei na graduação, tive contato com a obra da professora Maria Augusta. Referência intelectual na nossa área, seus livros têm presença obrigatória nos cursos de Letras Espanhol. Mas foi no final do doutorado e ao longo do pós-doutorado quando tive o prazer de conhecê-la pessoalmente, de ouvi-la falar sobre a história de ruas famosas de São Paulo, de pizzarias e padarias, de causos nos mais diferentes congressos espalhados pelo mundo e, é claro, de Cervantes. Lembro-me de receber uma mensagem da professora Maria Augusta por ocasião do congresso de cervantistas, na qual dizia que se havia lembrado de mim ao visitar o Museo Lope de Vega, em Madri.O fato é que este espaço curiosamente fica na Callede Cervantes, um dos grandes desafetos do Fénix no século XVII.
Todas as pessoas que convivem com a professora Maria Augusta notam seu grande bom humor. Nas reuniões de seu grupo de pesquisa, todos os orientandos e ex-orientandos são recebidos com enorme alegria e risadas calorosas. Deste modo, este espaço funciona não apenas como um ambiente para discutir a literatura do Século de Ouro espanhol, como também se configura como um lugar de troca de afetos. Ante dúvidas e dificuldades, a professora Maria Augusta sempre mantém uma palavra carinhosa de incentivo, numa constante demonstração de empatia com os pesquisadores em construção.
Todas as vezes que tive o prazer de conversar com a professora Maria Augusta, ela mencionou o prazer que sente ao dar aulas para a graduação de Letras Espanhol. É na sala de aula que ano após ano faz com que os alunos sintam a mesma alegria e entusiasmo que ela sempre manteve ao ler o Quixote. Lembro-me de uma palestra por ocasião de minha defesa de doutorado, na qual a professora Maria Augusta disse por diversas vezes com brilho nos olhos que a literatura de Cervantes era fantástica. Todos os alunos presentes no anfiteatro – muitos deles calouros – saíram de lá entusiasmados, ansiosos pela disciplina em que Cervantes apareceria.
O entusiasmo da professora Maria Augusta inspira. Resta-nos apenas agradecer por seu trabalho significativo e por sua presença fascinante dentro do contexto hispanista brasileiro.
Agosto de 2021
Silvia Inés Cárcamo de Arcuri
Por Isabela Roque Loureiro (CEFET/RJ)
“Caminante, no hay camino, se hace camino al andar”. Os versos do poeta espanhol Antonio Machado nos permitem refletir sobre a importância das caminhadas em nossas vidas. Caminhar éação, é movimento, e sua prática torna-se imprescindível àqueles que buscam conhecimento e entendimento de si e do outro. Durante minhas incontáveis andanças, tive o privilégio de conhecer, no ano de 2000, a hispanista Silvia Cárcamo, professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desde 1986.
O encantamento foi imediato, e o sentimento de admiração,que inicialmente nasceu por conta da forma como a Silvia nos apresentava a Literatura Hispânica e os seus autores, promovendo o diálogo com textos de diferentes épocas, gêneros e áreas de conhecimento, cresceu e, com o tempo, ganhou novos contornos. Transformou-se em carinho e, hoje, em amor.
Silvia irradia luz, tem brilho próprio. Sua trajetória no Hispanismo é marcada por dedicação, comprometimento e seriedade. Graduou-se em Letras pela Universidad Nacional de Rosario (1974) e concluiu o mestrado (1985) e o doutorado (1993) em Letras Neolatinas na UFRJ. Em 2009, realiza o estágio Pós-Doutoral na Universidad Autónoma de Barcelona, experiência que seguramente embeleza ainda mais a sua notável carreira. Foi coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Faculdade de Letras da UFRJ, vice-presidente da Associação de Professores de Espanhol do Estado do Rio de Janeiro e presidente da Associação Brasileira de Hispanistas. Integra o comitê científico do Anuario Brasileño de Estudios Hispánicos (MEC-Espanha) e faz parte do conselho de diversas revistas acadêmicas, atuando também como parecerista ad hoc de renomados periódicos científicos. Ademais, é detentora de uma expressiva produção bibliográfica que revela ser fruto de um trabalho construído com entusiasmo e muita determinação, o que a torna uma profissional, inquestionavelmente, admirável e inspiradora.
Sinto-me inteiramente agradecida por tê-la como eterna orientadora. Apesar de a distância geográfica inviabilizar a constância de nossos (re)encontros, Silvia está sempre presente. Eu a vejo nos meus pensamentos cotidianos, nas minhas leituras acadêmicas, nas minhas práticas docentes e principalmente na minha fala apaixonada pela Literatura Espanhola. E acredito que esse sentimento de gratidão seja sentido também pelos inúmeros discentes que a tiveram e a têm em seus caminhos. Muito obrigada por fazer parte da nossa caminhada e por nos ajudar a construir novas estradas!
Agosto de 2021
Lívia Reis
Por Ângela Lopes Norte (CEFET/RJ)
Ao ser convidada a descrever a importância de Lívia Reis em nossas relações acadêmicas e pessoais, senti-me não somente honrada, mas agraciada com a oportunidade de agradecer-lhe por ter me apresentado ao mundo literário de Alfonso Reyes, em um curso ministrado por ela em 2009, no Programa de Pós-graduação em Estudos de Literatura na UFF, a respeito da construção das identidades nacionais e continentais dos ensaístas latino-americanos. Uma das primeiras hispanistas brasileiras, Lívia inspirava e entusiasmava pelo conhecimento de autores como José Enrique Rodó, Fernando Ortiz, José Vasconcelos, Pedro Enrique Ureña, Gabriela Mistral, Octavio Paz, Ana Pizarro e outros; entre eles, Alfonso Reyes.
À época, ocupando o cargo de Assessora de Relações Internacionais do CEFET/RJ, com formação em área de língua inglesa, bem distante da literatura espanhola, envolvi-me com os ícones culturais latinos de tal forma que, com a orientação de Lívia, dediquei meus esforços à elaboração de minha tese de doutorado sobre Alfonso Reyes, o mexicano escritor-diplomata e intérprete do Brasil. A tese se transformou em um dos livros da trilogia sobre Alfonso Reyes e o Rio de Janeiro, um projeto de pesquisa de Lívia, financiado pela FAPERJ.
A aproximação acadêmica se perpetuou na relação pessoal. Uma viagem ao México, participações em eventos como o 53º Congresso Internacional de Americanistas em 2009, o Jalla Brasil, em 2010, e, em 2020, o convite do Consulado Geral do México no Rio de Janeiro para colaborar em um vídeo documentário, gravado por mexicanos e brasileiros, pela comemoração dos 90 anos da chegada de Reyes ao Brasil ajudaram a consolidar uma amizade que se ampliou ainda mais pelos constantes encontros a partir da gestão de Lívia como Assessora de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense.
Lívia é uma brasileira apaixonada, que vibra quando o assunto é a relação Brasil – América hispânica e faz vibrar os que se aproximam de seu trabalho e os que com ela convivem.
Julho de 2021.
Sara Rojo
Sara del Carmen Rojo de la Rosa tem cumprido uma trajetória artística, docente e intelectual exemplar. Ingressou na Faculdade de Letras como professora visitante em 1993 e de Espanhol em 1995, aposentando-se em dezembro de 2020. É Professora Titular da UFMG, onde continua atuando na Pós-graduação em Letras: Estudos Literários; realizou três pós doutorados: na Università degli Studi di Bologna (2001), na Universidad de Chile (2007) e na Cineteca nacional de Chile (2019).
Sara Rojo é reconhecida pela sua atuação artística como diretora dos grupos Mayombe, que fundou em 1995, e Mulheres Míticas, em 2014, tendo ainda participação efetiva na criação e trajetória de vários outros grupos teatrais mineiros. Entre as atividades desempenhadas na UFMG, Sara Rojo foi uma das fundadoras do NELAM – Núcleo de Estudos Latino-Americanos e do NELAP – Núcleo de Estudos em Letras e Artes Performáticas. Participou da Comissão de Criação do Curso de Artes Cênicas da UFMG, criado em 1999, hoje reconhecido como curso de Teatro; coordenou a Câmara de Pesquisa da FALE; tem participado de Associações de Pesquisa, incluindo a Associação Brasileira de Hispanista, tendo sido responsável pela equipe organizadora do V Congresso Brasileiro de Hispanista, sediado pela FALE-UFMG, em setembro de 2008.
Sara Rojo é responsável pela formação de mais de uma centena estudantes, orientando trabalhos em níveis de graduação (iniciação científica e monografia), mestrado, doutorado e pós-doutorado; publicou cerca de duzentos títulos entre livros, capítulos de livros e artigos publicados em periódicos especializados, destacando trabalhos relacionados aos temas de teoria e crítica literária e teatrale literatura/teatro latino-americanos.Entre suas contribuições teóricas estão seus estudos sobre “memória”, “dramaturgia do espaço” e “teatro latino-americano” destacando os livros Um percurso pelas imagens de Neruda no cinema e no teatro (Belo Horizonte: Javali, 2021), Mulheres míticas em performance. Dramaturgias O dezerto, Classe (Belo Horizonte: Javali, 2020), Dramaturgias e pulsões anárquicas (Belo Horizonte: Editora Javali, 2019), Teatro latino-americano em diálogo. Produção e visibilidade (Belo Horizonte: Javali, 2016.), Teatro y pulsión anárquica. Estudios teatrales en Brasil, Chile y Argentina (Santiago: Ed. Universidad de Santiago de Chile, 2010).
Escrever sobre Sara Rojo é prazer e um privilégio pela sua importância na minha vida pessoal como amiga e na minha trajetória como professor, pesquisador, (ex)ator e sujeito.
Marcos Antônio Alexandre (FALE-UFMG)
Graciela Ravetti
Sempre faltarão palavras para descrever a importância de Graciela Inés Ravetti de Gómez dentro do contexto do Hispanismo e do Ensino da Língua e das Literaturas Espanholas e Hispânicas. Sua trajetória acadêmica e intelectual é notável. Em trinta anos de dedicação à Area de Espanhol e à Faculdade de Letras da UFMG, entre inúmeras realizações profissionais, Graciela foi Professora Titular em Estudos Literários, Pesquisadora I-D do CNPq,Pesquisadora (PPM) da Fapemig, Pesquisadora visitante no Queen Mary, University of London (2009-2011). No campo administrativo, foi Coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários (2012-2014) e dirigiu a Faculdade de Letras entre maio de 2014 e março de 2021.
Graciela Ravetti esteve à frente da realização de convênios com outras Instituições brasileiras e estrangeiras, coordenando projetos internacionais com pesquisadores da Universidad de Mar del Plata, Universidad de Chile, University of London e da Universidad de La Plata.Foi uma das fundadoras do NELAM – Núcleo de Estudos Latino-Americanos, além de integrar o núcleo de professores que fundaram o NELAP – Núcleo de Estudos em Letras e Artes Performáticas.Graciela Ravetti foi participante ativa da Associação Brasileira de Hispanista, sendo sua Presidenta no biênio 2006-2008.
Como professora na Faculdade de Letras, Graciela Ravetti foi responsável pela formação de uma centena estudantes-pesquisadores, orientando trabalhos em níveis de graduação (iniciação científica e monografia), mestrado, doutorado e pós-doutorado; publicou mais de cem títulos entre livros, capítulos de livros e artigos publicados em periódicos especializados, destacando trabalhos relacionados aos temas de teoria e crítica literária, sobre literatura Argentina e América Latina. Sua proposição teórica sobre escrita performáticaé referência para inúmeras pesquisas, destacando o seu livro Nem pedra na pedra, nem ar no ar. Ensaios de literatura latino-americana (Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011).
Escrever sobre a Graciela – Grac. como eu carinhosamente a chamava –me faz pensar em suas múltiplas qualidades entre as quais se sobressaem seu bom humor, senso crítico acurado, intelectualidade e seu olhar generoso perante a tudo. Não posso me eximir de exaltar sua importância para Faculdade de Letras da UFMG e na trajetória acadêmica de inúmeras pessoas, na minha vida pessoal e profissional.
Marcos Antônio Alexandre (FALE-UFMG)
Marcia Paraquett
Perfil de Marcia Paraquett para a ABH
Por Joziane Assis
A década era 1970. Marcia foi a primeira pessoa da família a fazer um curso superior. Na universidade, conviveu com a repressão da ditadura e a presença de espiões do exército como colegas de sala. “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia...”, e foi. Marcia concluiu o curso de Letras, se apaixonou pela literatura latino-americana, deixou seu antigo emprego e passou a se dedicar inteiramente ao espanhol. Inteiramente considerando-se somente a perspectiva acadêmica porque, ao mesmo tempo, ela se tornava mãe de 3 filhos e cuidava da sua vida. Ao se apresentar em eventos acadêmicos,inclusive, faz questão de dizer que é mãe de 3 e avó de 5. Marcia é assim: extremamente sensível, humana, atenta à família, aos amigos, aos alunos e ex alunos, aos orientandos e ex orientandos. No decorrer dos anos, fez Mestrado e Doutorado em Literatura, estudou Linguística Aplicada no pós-doutorado e a ela passou a se dedicar desde os anos 2000. Abrilhantou o curso de Letras da UFF por 30 anos, de 1977 a 2007 e, a seguir, se rendeu de vez aos encantos da Bahia e da UFBA, para onde se mudou em 2009. Tudo isso sem falar de sua alegria, encanto, otimismo, comprometimento. Hoje temos o prazer de celebrar sua vida, sua disposição, seu exemplo, seu legado para nós, seus (eternos) alunos, que (tivemos)temosa felicidade de cruzar seu caminho em algum momento dessa jornada de 51 anos de sua história com o espanhol. Marcia é amor, luz intensa, paixão, emoção, carisma, seriedade, dedicação, generosidade. Marcia Paraquett é um presente e uma marca na história do hispanismo no Brasil.
Magnólia Barbosa Brasil do Nascimento
Por Lívia Reis
Não é difícil homenagear Magnólia na dimensão que ela merece. Magnólia, nossa flor predileta! São muitas as dimensões que podemos saudá-la mas, acima de todas, queremos homenagear, a professora, a mestra que marcou gerações de alunos que passaram por suas aulas e nunca esqueceram de suas lições, que vão muito além do português, do espanhol e da literatura espanhola, disciplinas que marcaram sua carreira nas escolas e na Universidade. Através do ensino de língua e da literatura Mag nos ensinou sobre afeto, sobre tolerância e sensibilidade. Desde muito cedo, a jovem professora havia sido convencida, através das leituras de Paulo Freire, de que só a Educação transforma e liberta e, com Antonio Candido, aprendeu que a literatura é um direito de todo cidadão.
Sua mão amiga ajudou a conduzir nossos passos e nos ensinando a ler o mundo e a desvendar os mistérios da vida. A poesia espanhola traduzia a paixão por seu objeto de estudo. Manuel Machado, García Lorca nos fascinavam. Nos embebedávamos de poesia e de indignação. A América Hispânica também fazia parte das viagens poéticas que passavam pelo Caribe de Nicolás Guillén às alturas de Machu Pichu, na voz de Pablo Neruda. Através da literatura Mag ajudou a formar cidadãos mais conscientes e mais sensíveis, como método, utilizava a palavra e a poesia.
Depois de anos no ensino médio, tornou-se professora da UFF, onde continuou disseminando delicadeza, cordialidade e poesia em suas aulas na graduação, especialização, mestrado e doutorado, ao longo de mais de 30 anos, tornando-se referência na literatura espanhola no nosso país e nome emblemático em nossa área de estudos. Em seus textos, podemos perceber a mescla de paixão e meticulosidade analítica. Trata-se de uma educadora que colocou sua inteligência e capacidade criativa naquilo que acreditou: a educação de nossos estudantes e na formação de nossos futuros professores.
Com a renovação, mais que bem vinda na nossa ABH, é sempre bom poder falar dos hispanistas que vieram antes de nós e que marcaram os estudos hispânicos no Brasil, que estão irremediavelmente ligados a ela, que foi fundadora da APEERJ e da ABH, além de ativa militante na luta pela presença e permanência do ensino da língua espanhola em nosso país. Hoje aposentada, seu olhar continua brilhando de encantamento com a literatura e com a poesia.
Agosto de 2021.
Luizete Guimarães Barros
Por Leandra Cristina Oliveira
Escrever sobre Luizete Guimarães Barros dezessete anos após ela me receber na UFSC, precisamente na sala 116 do bloco B do Centro de Comunicação e Expressão, para conversarmos sobre meu objeto de pesquisa para o mestrado, é uma oportunidade que me traz enorme alegria. Parar todas as tarefas na exaustão do trabalho remoto para falar da Lu é quase um momento de terapia. Terapia porque não tem como recobrar memórias da sua presença sem escutar sua risada, sem lembrar da forma leve como ela se e me conduziu no peso que muitas vezes a academia representa. Luizete Barros é hoje professora de espanhol da Universidade Estadual de Maringá (UEM), fazendo parte do corpo docente do Curso de Secretariado Executivo. Mudou-se de estado assim que se aposentou na UFSC, onde atuou de 1984 a 2010. Na UFSC, formou centenas de estudantes da área de Letras Espanhol, acompanhou TCC, colocou bacharéis e bacharelas, licenciados e licenciadas no mundo profissional de nosso campo. Orientou pesquisas de mestrado e de doutorado.
Contribuiu expressivamente para o hispanismo no Brasil com as pesquisas que orientou sobre léxico, morfologia, sintaxe, morfossintaxe, e outras. Continua contribuindo com seu percurso pela Linguística e suas significativas incursões pelo mundo da Tradução. Fundou a APEESC, Associação de Professores de Espanhol do Estado de Santa Catarina, para a qual está sempre disposta a contribuir. É, atualmente, Relações Públicas desse coletivo. Foram 26 anos dedicados à UFSC e, nesse ínterim, tive a sorte de conhecê-la em 2004, de passar por sua orientação no mestrado e no doutorado. Tive a honra e a satisfação de passar da verticalidade acadêmica para a horizontalidade da amizade. Com a Lu, no campus, no restaurante, no bar, em casa, nas viagens, falamos de tempo (físico, cronológico, linguístico...), de aspecto; falamos de Andrés Bello, de Coseriu, de Meillet... Falamos sobre arte, teatro, literatura, ciência, amor e desamores. De vez em quando, falamos do trabalho. Uma jovem que inspirada no e herdeira do Francês, se formava em 1975 na USP em Letras Português – Francês – Espanhol (quando ingressava, em 1972, o curso se chamava Letras Neolatinas). Era a transição que repercutiria em sua trajetória acadêmica. Defendia seu mestrado no ano de 1987 na UNICAMP, com uma pesquisa sobre a nasalização vocálica na língua Katukina.
Em 1998, terminava um ciclo na UFRJ, onde defendia sua tese intitulada “Tradição e inovação na teoria verbal da gramática de Andrés Bello”. A esse intelectual, fui apresentada pela pesquisadora através do clássico texto “Análisis ideológico de los tiempos de la conjugación castellana” (1979 [1810]), com o qual ousamos um oportuno diálogo com Hans Reichenbach – “Elements of SymbolicLogic” (1960 [1947]) em 2007. Foram outras colaborações acadêmicas depois disso, mas não foram tantas, talvez porque andamos muito ocupadas em outras questões. De minha parte, aprendendo com sua pluralidade intelectual (que hoje vejo, por sorte, um pouco marcada em mim), absorvendo toda sua competência, seu repertório cultural, sua força, disponibilidade e humanismo... subuenaonda. Aqui neste lugar de segunda secretária da ABH (2020-2022), encontro outras heranças, já que Luizete Guimarães Barros, minha orientadora-amiga, esteve nas bases fundantes da Associação Brasileira de Hispanistas, atuou/atua no conselho consultivo e esteve também no conselho fiscal. Nos agradecimentos da minha dissertação de mestrado, em 2007, eu agradecia por ela me ajudar superar desafios no desenvolvimento da pesquisa; hoje, agradeço por tudo que ela mesma já superou, pelo caminho que, talvez sem saber, ela tornou muito mais prazeroso de trilhar.
Agosto de 2021.
André Trouche
Por Marcia Paraquett
Muito já sabe dos vínculos de André Trouche com a Associação Brasileira de Hispanistas (ABH), mas talvez se saiba menos sobre quem foi aquela figura ímpar, com quem tive o privilégio de conviver durante muitos anos de minha vida. Mas preciso retomar alguns episódios, porque nossa ABH está rejuvenescida, o que me leva a imaginar que esses jovens não tenham tido o prazer de vê-lo nos nossos congressos.
André, assim como eu, era professor de Espanhol na Universidade Federal Fluminense (UFF) e fez seu Doutorado em Literaturas de Língua Espanhola, assim também como eu, havendo uma pequena diferença de um ano entre a defesa de nossas teses. Ou seja, profissional e academicamente, André e eu éramos iguais: defendíamos as culturas e as artes latino-americanas, mas sem deixar de reconhecer a altíssima qualidade das artes espanholas, em particular as literaturas, embora não cedêssemos às políticas linguísticas que nos chegavam da Espanha nos anos de 1990, quando nos fortalecíamos para fundar a ABH, o que ocorreu em 2000, durante um Congresso realizado na UFF e presidido por ele.
André era diferente de mim. Eu sempre fui rebelde e mal criada, enquanto ele expressava sua rebeldia com delicadeza. Não foram poucas as vezes em que houve sérios embates nas assembleias dos Congressos Brasileiros de Professores de Espanhol (CBPE), em especial os anteriores à fundação da ABH, em que ele me catucava por debaixo da mesa ou me mandava um bilhetinho, me dando um toque para baixar a voz e negociar com nossos contendores, quase sempre representantes do Instituto Cervantes (IC). Eu ficava enfurecida e, ao contrário, pedia que ele deixasse de ser cortês com aquela gente que descendia de Hernán [Des]Cortês. Ele ria, mas sempre ganhava.
A prova disso é que Mario Gonzalez, grande voz do hispanismo no Brasil, com quem eu tinha uma relação pessoal de muito afeto, entendeu que apenas André poderia liderar as discussões que antecederam a fundação da ABH. Nem Mario, nem eu e nem tantas outras pessoas hispanistas daquele momento tínhamos a astúcia política de André para fazer de conta que negociava com o IC, mas, na verdade, inaugurava discursos e posturas que acabaram por constituir a base de nossa ABH, cujos congressos sempre foram bastante independentes de intromissões do Norte, que até hoje afetam nossos CBPE, embora de maneira mais branda.
André era extremamente político nas suas relações, mas entendeu a política de uma maneira bastante utópica, como foi comum para nossa geração. Suas negociações como chefe de departamento, professor, orientador, pesquisador, membro de colegiados, de comitês científicos e de nossa Associação eram suaves, serenas e até mesmo romantizadas. Ele sempre acreditava que o argumento e a escuta venceriam democraticamente em qualquer negociação. Ele tinha paciência e sabedoria. Arrastava seu corpo pesado com leveza, da mesma forma que nos ganhava sem que nos déssemos conta de que caíamos nas suas artimanhas. Mas nunca nos arrependíamos, porque ver nosso argumento se enfraquecer diante do que dizia André, era ganhar em âmbito maior, porque sua luta sempre foi o coletivo, o social, e nunca o individual e o pessoal.
Quanta saudade a ABH tem de você, André.
Salvador, 28/07/2021
Marcia Paraquett
Mario González
Fundador da ABH
De una presencia y ausencia indelebles
Hablar de Mario González es hablar de la trayectoria de los estudios hispánicos en Brasil y de sus resonancias en el ámbito internacional del hispanismo.
En 1968, el profesor Mario ingresa a la Universidad de São Paulo, allí, obtendrá su doctorado en 1973 y lo que llamamos “libre-docencia” en 1993, a partir de 1996 será profesor titular. Durante todos esos años, dedicados a la investigación y a la docencia, el profesor ha cumplido un papel decisivo en el desarrollo del área de Lengua Española y Literaturas Española e Hispano-americana en la graduación y en el posgrado. Con su acción casi febril, formó un gran número de profesores que hoy día actúan en diversas universidades en todo Brasil, con ellos ha compartido su conocimiento, su paciencia y su biblioteca. Las inquietudes ajenas pronto se convertían en suyas. Lo que es mucho, frente al número de alumnos e interlocutores que han cruzado su camino.
Pero su papel no se limitaba al ámbito de la enseñanza, dentro y fuera de clase, ha luchado por una universidad pública, democrática y transparente, comprometido con sus convicciones, ha asumido distintos puestos de representación en la universidad, en distintas instancias, siempre con la intención de garantizar un movimiento autónomo y democrático en la defensa de la universidad pública. Enlazado a esa militancia política en la universidad, estaba su empeño en la propagación e impulso de los estudios hispánicos en Brasil. De la combinación de su empeño con el de otros hispanistas brasileños, se fundó la Asociación de Profesores del Estado de São Paulo (APEESP) en 1983 y la Asociación Brasileña de Hispanistas (ABH) en 2000.
La creación de la ABH supuso un espacio privilegiado para la lengua y las literaturas en la universidad con un destacado perfil de investigación e innovación. Sus congresos se consolidaron como ámbito de calidad, caracterizado por el rigor en los criterios de aceptación de propuestas y marcado por una curva ascendiente en su crecimiento a lo largo del tiempo. Mario González integró como presidente los dos primeros mandatos (2000-2002 y 2002-2004), y en los últimos años había asumido la dirección de la revista científica de la Asociación, Abehache, creada durante la gestión 2010-2012. Se debe a Mario, también la coordinación de ese emprendimiento en sus tres primeros números.
En sus investigaciones individuales, se dedicó a distintas temáticas: en los años setenta, se aplicó al estudio del teatro lorquiano, sobre el tema, presentó su tesis doctoral, que sería editada bajo el título El Conflicto Dramático en Bodas de Sangre. Fascinado por las relaciones entre estética e historia, inauguró líneas de investigación y proyectos dedicados a grandes autores y a obras fundamentales de la Edad Media y del Renacimiento español— Quevedo, Cervantes, La Celestinay el Lazarillo de Tormes—. Durante varios años examinó un género literario que surgió en España en el siglo XVII y que hasta hoy perdura en las literaturas de distintas lenguas: la Picaresca. Al centrarse en los estudios comparativos del género picaresco en las literaturas española y brasileña, aproximó el “malandro” de la literatura brasileña al pícaro español, y supo, de modo novedoso, encontrar alternativas pertinentes al contorno de esa aproximación. Con eso, puso Brasil en el mapa de dichas discusiones, hasta entonces emprendidas, sobre todo en territorio europeo.
Fue en ese momento en que mi contacto con el profesor Mario se profundizó, gracias a un incidente: en 1994, tras haber cursado la asignatura de Literatura Española Siglo XVII, me preparaba para empezar una investigación en “Iniciação científica” con la profesora Adélia Bezerra Meneses sobre la poesía de João Cabral de Melo Neto, ya habíamos hablado largamente sobre el recorrido analítico y quiso el destino, por decirlo así, que el estudio no siguiera adelante y ahí viene el incidente.
Un determinado día, estaba comiendo en el restaurante universitario y, como la gran mayoría de los alumnos, dejábamos nuestras mochilas en unas estanterías abiertas. Resulta que, entre una masticada y otra, me doy cuenta de que la mochila ya no estaba allí: la habían hurtado y se habían llevado todos los libros de la investigación. Sumado a ese infortunio, la profesora Adélia tuvo que volver a la Universidad de Campinas (Unicamp), donde también era profesora, a fin de jubilarse.
Así, con tal secuencia de sucesos, no pude seguir con esa investigación, pero otra surgió: el profesor Mario me invitó a formar parte del grupo de estudiantes que se dedicaban a la investigación de las relaciones de la Picaresca con la literatura brasileña.
Muchos han sido los resultados de esa convivencia fluida y afectuosa: formé parte de grupos de estudios sobre la retomada de la Picaresca en la literatura brasileña, presenté con mis compañeros de grupo trabajos en simposios científicosdurante mis primeros años en la universidad (y aquí abro un paréntesis para enfatizar la importancia de tener un profesor en el sentido lato de la palabra, es decir, aquel que se apropia del sentido latino “insignāre”, aquel que deja su marca, que, efectivamente, te señala un camino).
Han sido años de trato cálido y atento hacia mis primeros pasos en el mundo académico y, junto a los alumnos tutelados del profesor Mario, pudimos acompañar su postulación al puesto de profesor titular en la Universidad de São Paulo, seguida de la publicación de su obra A saga do anti-herói, lectura imprescindible para los estudios de la Picaresca y de la cual, de cierta manera, sus alumnos pudieron participar.
En los últimos años, él había regresado a sus “orígenes”, puesto que se dedicaba a Lorca una vez más. Sobre la obra del autor andaluz, llevaría un curso de posgrado en el primer semestre de 2013. En su propuesta para el curso sobre Lorca estaban algunas de sus constantes en los estudios literarios: la urdimbre de distintas formas discursivas, como el teatro, la poesía, el ensayo y la conferencia. A través de ese hilar delgado, concentraba innúmeros procesos de transformación de la sociedad española a lo largo de diferentes períodos.
Como en varios momentos de su trayectoria académica, a sus 75 años, el profesor Mario González seguía proponiendo no sólo el análisis de una producción literaria en sí misma, sino profundos cuestionamientos de formas discursivas, de su relación con la tradición literaria, su contextualización teórica e histórica, cuyo análisis tenía sus raíces clavadas en los momentos decisivos de la producción literaria española.
No hay duda de que, a partir de la lectura de sus obras, de la escucha de su voz en ambientes formales o no, uno está seguro de que ha sido una pérdida indeleble, manifiesta por la presencia del espesor teórico del debate, por el rigor en su formulación, además de una peculiar capacidad de posicionarse claramente frente a cuestiones difíciles y de proponer estudios fundamentales en tiempos de intolerancia y de individualismo pringoso.
Así que, de manera oblicua, creo que puedo agradecerle al azar y a João Cabral de Melo Neto, el privilegio de haber convivido con el profesor Mario.
Margareth Santos (USP)
Mayo de 2021.